domingo, 27 de fevereiro de 2011

Vold

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Sempre me encanto com poetas que conseguem transmitir com tão poucas palavras grandes reflexões. Jan Erik Vold é um desses. Encontrei um de seus poemas no livro de Jostein Gaarder e Klaus Hagerup, A Biblioteca Mágica de Bibbi Bokken. O poema retrata com simplicidade  a efêmera vida  de uma gota.


olhe
a gota
que estava ali


(Jan Erik Vold)



Um instante é sempre único em nossa existência. Gota a gota vamos vivendo, vamos amando, vamos sorrindo, vamos sofrendo, vamos lutando, vamos morrendo...

A única certeza que temos é que tudo em nosso mundo se transforma; algumas coisas rapidamente, outras bem devagar. Tudo passa, tudo muda. Não seguramos nada, nem mesmo um instantezinho qualquer.





Jan Erik Vold é hoje, sem dúvida, um dos poetas vivos mais lidos e populares da Noruega. Ele nasceu em Oslo, em 1939. Vold é também um excelente tradutor de poesia, destacando como tradutor da obra de William Carlos Williams e Bob Dylan.


Para saber mais sobre o livro "A Biblioteca Mágica de Bibbi Bokken", recomendo uma visita no blog do Leo.




quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Poema

Retrato de uma criança com uma flor na mão

Quem lhe ensinara o sorriso
e a graça de assim ficar
com as luzes do paraíso
sustentadas no olhar?
Naquele instante divino,
com a tênue flor na mão.
recebeu seu destino
palma e galardão.
Não se repete na vida
a hora clara existida
livre de tempo e dor.
Era tão linda! E estou triste.
Deus, por que permitiste
sobrevivesse à flor?

                       Cecília Meireles


Um soneto

A solidão e sua porta

Quando mais nada resistir que valha
A pena de viver e a dor de amar
E quando nada mais interessar
(Nem o torpor do sono que se espalha)

Quando pelo desuso da navalha
A barba livremente caminhar
E até Deus em silêncio se afastar
Deixando-te sozinho na batalha

A arquitetar na sombra a despedida
Deste mundo que te foi contraditório
Lembra-te que afinal te resta a vida

Com tudo que é insolvente e provisório
E de que ainda tens uma saída
Entrar no acaso e amar o transitório.

 
                              
                            Carlos Pena Filho