domingo, 30 de junho de 2013

Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente ... e não a gente a ele!

Mario Quintana 


sábado, 29 de junho de 2013







"O nosso mundo vive demasiado sob a tirania do medo e insistir em mostrar-lhe os perigos que o ameaçam só pode conduzi-lo à apatia da desesperança. O contrário é que é preciso: criar motivos racionais de esperança, razões positivas de viver. Precisamos mais de sentimentos afirmativos do que de negativos. Se os afirmativos tomarem toda a amplitude que justifique um exame estritamente objectivo da nossa situação, os negativos desagregar-se-ão, perdendo a sua razão de ser. Mas se insistirmos em demasia nos negativos, nunca sairemos do desespero."

Bertrand Russell, in 'A Última Oportunidade do Homem

Nosso Sol, uma estrela branca

O título não está errado, nossa estrela, para a surpresa da grande maioria das pessoas, não é uma estrela amarela e sim branca, mas por qual motivo?
 

Por causa da forma que nossa estrela nasceu e evoluiu, é uma estrela do tipo G2 V, com um pico de emissão em comprimentos de onda na cor verde e captados como luz branca em nossos olhos, mas o que isso significa?
 

Cada estrela tem uma temperatura superficial, o que define seu tipo espectral e consequentemente sua temperatura. No caso do Sol, que possui uma temperatura em torno de 6000K, é do tipo G2. Além da temperatura, o que define sua característica é seu tamanho, no caso do Sol, uma estrela da sequência principal (anãs), sendo de classe V.
O fato de vermos o Sol amarelado é um efeito atmosférico, porém, como vemos na foto, do espaço, onde não tem atmosfera, vemos o Sol na sua verdadeira cor, o branco.

A imagem foi feita por um dos tripulantes da Expedição 36 a bordo da Estação Espacial Internacional, a ISS, enquanto o laboratório orbital estava sobre um ponto no sudoeste de Minnesota em 21 de Maio de 2013.
 

Fontes: Apostila de Fundamentos de Astrofísica Estelar do CASP; Nasa.

Autor: Thiago Prado



quarta-feira, 25 de maio de 2011

Literatura e Podcast

Esta semana propus aos meus alunos a leitura de Pequenas observações sobre a vida em outros planetas, um livro superdivertido do Ricardo Silvestrin.





Nele, o autor soltou a imaginação e criou um poema para cada planeta maluco que "visitou". E Mariana Massarani, a ilustradora, não deixou por menos! Ilustrou com muita cor e graça cada planeta observado por Silvestrin.

Agora, ouçam Marcelle lendo uma pequena biografia do autor.






As reflexões para novas produções textuais rodaram, inicialmente, em torno de alguns questionamentos propostos pelo próprio livro:

“Que tipo de paisagem existiria em planetas com nomes como POFT, SUJS ou ARGH? Como seriam os habitantes de NASUS, GUGUS ou SAMBA?”

Em círculo, lemos o livro e embarcamos numa divertida viagem intergaláctica ao visitar os planetas inventados por Silvestrin. Depois, foi fácil fechar os olhos e visitar novos planetas e observar seus habitantes de pertinho!

A seguir, alguns planetas "visitados" por meus alunos.






 
 O Planeta Silêncio

No planeta do silêncio
Todo mundo é quieto.
   Parece um deserto.
   Lá ninguém pula corda,
   Nem brinca, nem ri, nem chora.
   O planeta parece não ter existido.
   Ninguém ouve nada lá.
   Tudo é silêncio.
   Psiu!!!


 Autora: Eduarda Santos Castro  - 10 anos

 







Planeta Sorriso

As bocas são os mundos,
mundos de concreto.

Entre o dente e a gente,
o sorriso: o paraíso!



 Autor: Pedro Emaunel Correia de Lima  - 10 anos














Planeta da Moda

No planeta Moda
todo mundo é bem bonito,
todo mundo é bem vestido,
todo mundo é bem elegante,
até o elefante!!


Todo mundo é parecido:
de calça, blusa e bota,
todo mundo anda na moda!


Todos andam dando sorrisos e dizendo:
 "Nossa, como você está lindo!".

Mas tem gente extravagante,
que usa como enfeite
a tromba do elefante!


 Autora: Emaunelle de Paula Ferreira - 11 anos





O poema de Emanuelle foi declamado por Milena.









Planeta Pergunta

Lá no planeta Pergunta,
todo mundo só sabe indagar:
"Você é minha amiga?"
"Você tem quantos anos?"
"Você gosta de sorvete?"
"Você quer brincar comigo?"

Lá, o ponto de interrogação
é o ponto ideal.
As perguntas são geniais,
mas as respostas não são tão fenomenais.


 Autora: Letícia Suriano Caldeira - 10 anos




A poesia de Letícia foi declamada por sua amiga Isabelly.








Planeta Trocado

No planeta Trocado
todo mundo é safado.
O picolé é quente.
O açúcar é salgado.

A vaca pia.
O leão cacareja.
A galinha ruge.
O sapo mia. 
E o gato?
 Esse só late!!!

As pessoas desse planeta
também são trocadas:
os velhos são quem trabalham
e as crianças que recebem salário.

Os pais obedecem.
Os filhos que dão as ordens!

Nesse planeta tudo é trocado.
Quem está certo, sempre está errado.

 Autor: Herbert de Oliveira Marques - 10 anos








Planeta Viver

Em Viver
a vida é eterna.
Quando um ser chega lá,
morre de espanto.
Mas não tem problema.
A vida lá é como no videogame:
morre e vive,
morre e vive,
morre e vive,
morre e vive.

 Não há GAME OVER!



 Autora: Kethelin Sant'Ana Barreto - 10 anos






sexta-feira, 13 de maio de 2011

Chapeuzinho Vermelho


Essa história foi narrada por Isabelly Moura, minha aluna da turma 501. Os efeitos sonoros foram feitos por mim, Tia Alda Mary e por minhas outras alunas: Eduarda, Emanuelle, Laura e Bhrenna.

Para ouvi-la é só clicar no link:






quarta-feira, 9 de março de 2011

Hipátia



"Hipátia distinguiu-se na matemática, na astronomia, na física e foi ainda responsável pela escola de filosofia neoplatônica - uma extraordinária diversificação de atividades para qualquer pessoa daquela época. Nasceu em Alexandria em 370. Numa época em que as mulheres tinham poucas oportunidades e eram tratadas como objetos, Hipátia moveu-se livremente e sem problemas nos domínios que pertenciam tradicionalmente aos homens. Segundo todos os testemunhos, era de grande beleza. Tinha muitos pretendentes mas rejeitou todas as propostas de casamento. A Alexandria do tempo de Hipátia - então desde há muito sob o domínio romano - era uma cidade onde se vivia sob grande pressão. A escravidão tinha retirado à civilização clássica a sua vitalidade, a Igreja Cristã consolidava-se e tentava dominar a influência e a cultura pagãs."

Carl Sagan, em Cosmo







Essa grande mulher de Alexandria, Hipátia, tem sua história contada pelo cineasta espanhol (nascido no Chile), Alejandro Amenábar, no filme “Alexandria”. Sua versão sobre a história dessa astrônoma nos mostra, entre os confrontos políticos e religiosos da época, que Hipátia e de seus discípulos tinham um grande amor pela sabedoria e pelas artes do Antigo Mundo, pelos seus livros e seus documentos. As ruas de Alexandria e todo o esplendor de sua biblioteca – a maior do mundo naquele tempo, de seu museu e do seu farol, símbolos da propeperidade de Alexandria, são exibidos com uma fotografia primorosa.


Filha de Theon, um renomado filósofo, astrônomo, matemático, autor de diversas obras e professor em Alexandria, Hipátia aprendeu desde muito cedo a amar a filosofia, as artes, a astronomia, a matemática, a oratória e retórica. Era uma mulher forte e apaixonada por achar respostas plausíveis para os mistérios do mundo, principalmente, os que eram relacionados aos astros celestes que tanto observava e intrigava.





Nunca se casou, pois se considerava casada com a verdade. O seu fim trágico mostrou o quanto a intolerância religiosa e fundamentalista é nociva à liberdade intelectual.





 


E por falar em fundamentalismo religioso, o Egito ainda não se livrou dele. Em meio a atual crise política, há chefes dos grupos e partidos islamistas querendo abocanhar o poder e disseminar suas ideias contrárias às ideias defendidas por Hipátia e seus discípulos.

Abaixo segue as frases proferidas pelo egípcio Yusuf al Qaradawi, um dos líderes na irmandade mulçumana que, segundo a matéria de Julia Carvalho, publicada na revista Veja de 02/março/2011, “adota a postura de médico ou de monstro, conforme a plateia”. Vejam:


“Depois da libertação do Iraque, faltará conquistar Roma. Isso significa que o Islã vai retornar à Europa pela terceira vez. Vamos conquistar a Europa. Vamos conquistar a América.”
Em uma conferência promovida pela Maya,
organização de mulçumanos jovens, em Toledo, EUA, em 1995


“Foi com grande pesar que ouvi o grande imã de Meca dizer ser proibido matar civis mesmo em Israel.”
Participando de um debate sobre ataques suicidas
promovido pela revista Middle East Quarterly, em 2003


“Podem até haver algumas mulheres que não concordem em apanhar do marido e vejam a punição como humilhação. Muitas mulheres, porém, gostam de apanhar e consideram adequado que o marido bata nelas apenas para fazê-las sofrer.”
 
Participando em 2004 da Conferência de Clérigos 
Mulçumanos sobre as Regras  Religiosas para o Espancamento de Esposas
         

“O plano do estado mulçumano é se expandir e cobrir a Terra.”
Em artigo escrito em 2007 para o site IslamOnline.net


“A circuncisão feminina (mutilação genital) não é obrigatória, mas os pais devem submeter suas filhas a ela se quiserem. Pessoalmente, sou favorável a isso.”
               Em artigo no  IslamOnline.net, 2007


domingo, 27 de fevereiro de 2011

Vold

,
Sempre me encanto com poetas que conseguem transmitir com tão poucas palavras grandes reflexões. Jan Erik Vold é um desses. Encontrei um de seus poemas no livro de Jostein Gaarder e Klaus Hagerup, A Biblioteca Mágica de Bibbi Bokken. O poema retrata com simplicidade  a efêmera vida  de uma gota.


olhe
a gota
que estava ali


(Jan Erik Vold)



Um instante é sempre único em nossa existência. Gota a gota vamos vivendo, vamos amando, vamos sorrindo, vamos sofrendo, vamos lutando, vamos morrendo...

A única certeza que temos é que tudo em nosso mundo se transforma; algumas coisas rapidamente, outras bem devagar. Tudo passa, tudo muda. Não seguramos nada, nem mesmo um instantezinho qualquer.





Jan Erik Vold é hoje, sem dúvida, um dos poetas vivos mais lidos e populares da Noruega. Ele nasceu em Oslo, em 1939. Vold é também um excelente tradutor de poesia, destacando como tradutor da obra de William Carlos Williams e Bob Dylan.


Para saber mais sobre o livro "A Biblioteca Mágica de Bibbi Bokken", recomendo uma visita no blog do Leo.




quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Poema

Retrato de uma criança com uma flor na mão

Quem lhe ensinara o sorriso
e a graça de assim ficar
com as luzes do paraíso
sustentadas no olhar?
Naquele instante divino,
com a tênue flor na mão.
recebeu seu destino
palma e galardão.
Não se repete na vida
a hora clara existida
livre de tempo e dor.
Era tão linda! E estou triste.
Deus, por que permitiste
sobrevivesse à flor?

                       Cecília Meireles


Um soneto

A solidão e sua porta

Quando mais nada resistir que valha
A pena de viver e a dor de amar
E quando nada mais interessar
(Nem o torpor do sono que se espalha)

Quando pelo desuso da navalha
A barba livremente caminhar
E até Deus em silêncio se afastar
Deixando-te sozinho na batalha

A arquitetar na sombra a despedida
Deste mundo que te foi contraditório
Lembra-te que afinal te resta a vida

Com tudo que é insolvente e provisório
E de que ainda tens uma saída
Entrar no acaso e amar o transitório.

 
                              
                            Carlos Pena Filho






domingo, 19 de dezembro de 2010

Clarice Lispector


Restos do Carnaval


Não, não deste último carnaval. Mas não sei por que este me transportou para a minha infância e para as quartas-feiras de cinzas nas ruas mortas onde esvoaçavam despojos de serpentina e confete. Uma ou outra beata com um véu cobrindo a cabeça ia à igreja, atravessando a rua tão extremamente vazia que se segue ao carnaval. Até que viesse o outro ano. E quando a festa ia se aproximando, como explicar a agitação íntima que me tomava? Como se enfim o mundo se abrisse de botão que era em grande rosa escarlate. Como se as ruas e praças do Recife enfim explicassem para que tinham sido feitas. Como se vozes humanas enfim cantassem a capacidade de prazer que era secreta em mim. Carnaval era meu, meu.

No entanto, na realidade, eu dele pouco participava. Nunca tinha ido a um baile infantil, nunca me haviam fantasiado. Em compensação deixavam-me ficar até umas 11 horas da noite à porta do pé de escada do sobrado onde morávamos, olhando ávida os outros se divertirem. Duas coisas preciosas eu ganhava então e economizava-as com avareza para durarem os três dias: um lança perfume e um saco de confete. Ah, está se tornando difícil escrever. Porque sinto como ficarei de coração escuro ao constatar que, mesmo agregando tão pouco à alegria, eu era de tal modo sedenta que um quase nada já me tornava uma menina feliz.

E as máscaras? Eu tinha medo mas era um medo vital e necessário porque vinha de encontro à minha mais profunda suspeita de que o rosto humano também fosse uma espécie de máscara. À porta do meu pé de escada, se um mascarado falava comigo, eu de súbito entrava no contato indispensável com o meu mundo interior, que não era feito só de duendes e príncipes encantados, mas de pessoas com o seu mistério. Até meu susto com os mascarados, pois, era essencial para mim.

Não me fantasiavam: no meio das preocupações com minha mãe doente, ninguém em casa tinha cabeça para carnaval de criança. Mas eu pedia a uma de minhas irmãs para enrolar aqueles meus cabelos lisos que me causavam tanto desgosto e tinha então a vaidade de possuir cabelos frisados pelo menos durante três dias por ano. Nesses três dias, ainda, minha irmã acedia ao meu sonho intenso de ser uma moça – eu mal podia esperar pela saída de uma infância vulnerável – e pintava minha boca de batom bem forte, passando também ruge nas minhas faces. Então eu me sentia bonita e feminina, eu escapava da meninice.

Mas houve um carnaval diferente dos outros. Tão milagroso que eu não conseguia acreditar que tanto me fosse dado, eu, que já aprendera a pedir pouco. É que a mãe de uma amiga minha resolvera fantasiar a filha e o nome da fantasia era no figurino Rosa. Para isso comprara folhas e folhas de papel crepom cor-de-rosa, com as quais, suponho, pretendia imitar as pétalas de uma flor. Boquiaberta, eu assistia pouco a pouco à fantasia tomando forma e se criando. Embora de pétalas o papel crepom nem de longe lembrasse, eu pensava seriamente que era uma das fantasias mais belas que jamais vira.

Foi quando aconteceu, por simples acaso, o inesperado: sobrou papel crepom, e muito. E a mãe de minha amiga – talvez atendendo a meu apelo mudo, ao meu mudo desespero de inveja, ou talvez por pura bondade, já que sobrara papel – resolveu fazer para mim também uma fantasia de rosa com o que restara de material. Naquele carnaval, pois, pela primeira vez na vida eu teria o que sempre quisera: ia ser outra que não eu mesma.

Até os preparativos já me deixavam tonta de felicidade. Nunca me sentira tão ocupada: minuciosamente, minha amiga e eu calculávamos tudo, embaixo da fantasia usaríamos combinação, pois se chovesse e a fantasia se derretesse pelo menos estaríamos de algum modo vestidas – à ideia de uma chuva que de repente nos deixasse, nos nossos pudores femininos de oito anos, de combinação na rua, morreríamos previamente de vergonha – mas ah! Deus nos ajudaria! Não choveria! Quanto ao fato de minha fantasia só existir por causa das sobras de outra, engoli com alguma dor meu orgulho que sempre fora feroz, e aceitei humilde o que o destino me dava de esmola.

Mas por que exatamente aquele carnaval, o único de fantasia, teve que ser tão melancólico? De manhã cedo no domingo, eu já estava de cabelos enrolados para que até de tarde o frisado pegasse bem. Mas os minutos não passavam, de tanta ansiedade. Enfim, enfim! Chegaram três horas da tarde: com cuidado para não rasgar o papel, eu me vesti de rosa.

Muitas coisas que me aconteceram tão piores que estas, eu já perdoei. No entanto essa não posso sequer entender agora: o jogo de dados de um destino é irracional? É impiedoso. Quando eu estava vestida de papel crepom todo armado, ainda com os cabelos enrolados e ainda sem batom e ruge – minha mãe de súbito piorou muito de saúde, um alvoroço repentino se criou em casa e mandaram-me comprar depressa um remédio na farmácia. Fui correndo vestida de rosa – mas o rosto ainda nu não tinha a máscara de moça que cobriria minha tão exposta vida infantil – fui correndo, correndo, perplexa, atônita, entre serpentinas, confetes e gritos de carnaval. A alegria dos outros me espantava.

Quando horas depois a atmosfera em casa acalmou-se, minha irmã me penteou e pintou-me. Mas alguma coisa tinha morrido em mim. E, como nas histórias que eu havia lido sobre fadas que encantavam e desencantavam pessoas eu fora desencantada; não era mais uma rosa, era de novo uma simples menina. Desci até a rua e ali de pé eu não era uma flor, era um palhaço pensativo de lábios encarnados. Na minha fome de sentir êxtase, às vezes começava a ficar alegre mas com remorso lembrava-me do estado grave de minha mãe e de novo eu morria.

Só horas depois é que veio a salvação. E se depressa agarrei-me a ela é porque tanto precisava me salvar. Um menino de uns 12 anos, o que para mim significava um rapaz, esse menino muito bonito parou diante de mim e, numa mistura de carinho, grossura, brincadeira e sensualidade, cobriu meus cabelos já lisos, de confete: por um instante ficamos nos defrontando, sorrindo, sem falar. E eu então, mulherzinha de 8 anos, considerei pelo resto da noite que enfim alguém me havia reconhecido: eu era, sim, uma rosa.